quinta-feira, junho 29, 2006

 

SINGULARIDADES

1
O construtor aspira a uma comunidade fraterna e solidária. Por isso, vive longe da sociedade, convivendo apenas com alguns amigos e, quer solitário, quer em companhia, a sua construção é a constante renovação da sua vida. Se a existência é uma constante mudança, o móvel equilíbrio do ser implica uma abertura aos outros sem preconceitos nem fantasias deformadoras. O deus do real não está no interior do sujeito, no círculo fechado da confusa intimidade, mas no rosto dos outros e é através desses rostos que se perspectiva a construção humana de uma comunidade viva e essencialmente aberta. Nas pulsações da convivência, o ser emerge dos seus obscuros labirintos e encontra o pólo do outro, que o clarifica e assegura a sua móvel e aberta identidade. A verdadeira origem solar reside neste encontro com o outro que, deste modo, ilumina o sujeito e o erige em face da alteridade essencial. O deus da origem e do recomeço da vida revela, assim, a sua integridade viva como ser da transformação e da mudança fértil do real. O outro é uma condição inicial da construção e está sempre implícito nela mesmo quando irrompe do círculo solitário do ser.

António Ramos Rosa
2

Como amamos pouco. Como amamos mal. Como acabamos por nunca chegar ao lugar da alma onde mora a solidão do outro. Nem sei o motivo desta meditação. Sei que caminhei pela memória -– e regresso.

Isabel da Nóbrega
3


Presença de Deus em Mim


Todo um silêncio
em derredor,
apenas penetrado pelo som
da própria voz
ou pensamento.

Aí a minha mágoa
- toda feita doçura –
nasce algures
em um lugar
impreciso
entre alma
e consciência.

Nasce,
exactamente,
onde se encontra
a si própria,
face a face,
e se reconhece.

Mais a consciência
do chão
de onde levanta
voo
e cresce.



Manuel João
4
"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares
Escritor português, a propósito da perda de sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner)

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